FELLOWS DE OUTUBRO / DEZEMBRO DE 2014
   

FELLOWS DE OUTUBRO / DEZEMBRO DE 2014

O Sacatar recebeu entre os meses de outubro e dezembro de 2014 um grupo de cinco residentes em sua sede na ilha de Itaparica. Durante a sessão, eles criaram diversos novos trabalhos e, na partida, levaram em suas bagagens várias experiências que marcarão também suas obras pós-residência. Abaixo a lista de residentes da sessão de outubro / dezembro:

Residentes da sessão de outubro / dezembro: Romy, Lina, Germaine, Antônio (funcionário do Sacatar), Liutauras, Augusto (Gerente do Sacatar) e Mário © 2014, Acervo pessoal de Liutauras Janusaitis

Residentes da sessão de outubro / dezembro: Romy, Lina, Germaine, Antônio (funcionário do Sacatar), Liutauras, Augusto (Gerente do Sacatar) e Mário © 2014, Acervo pessoal de Liutauras Janusaitis

GERMAINE INGRAM, dançarina e coreógrafa norte-americana, realizou trabalhos de pesquisa no âmbito da dança, do teatro e da música para tentar entender as formas como as comunidades afro-brasileiras mantêm ou esquecem suas heranças e recordações que remetem de alguma forma aos tempos de escravidão. Em Itaparica, ela visitou diversos terreiros de Candomblé e presenciou variados rituais e cerimônias. Em Salvador, Germaine interagiu com o grupo de teatro de bonecos A Roda, comandado pela artista Olga Gomez; realizou uma oficina na Escola de Dança da UFBA e ministrou aulas para artistas que participarão de uma montagem de Hamlet, de William Shakespeare, no Teatro Villa Velha. A coreógrafa também trabalhou em colaboração com o músico e também Fellow LIUTAURAS JANUSAITIS para a realização de duas performances de música e dança realizadas durante a sessão.Germaine veio ao Sacatar através de uma parceria entre a Sacatar Foundation e Dance-UP em Philadelphia, Estados Unidos.
LINA EL-MOUNZER é uma escritora libanesa que veio ao Sacatar através da parceria do Instituto com a UNESCO-Aschberg. Durante a sua residência, ela trabalhou principalmente em um romance sobre as consequências da guerra civil libanesa e como isso afetou a arte e a vida do seu povo, traçando os estilhaços psicológicos de um único carro-bomba em 1984 através das vidas de vários sobreviventes ao longo de 20 anos. Lina compôs também o seguinte  poema, inspirado em suas impressões de Itaparica, que um outro Fellow de seu grupo, o músico LIUTAURAS JANUSAITIS, musicou.
Em um lugar como este
Onde a paisagem é, a todo tempo, feita e desfeita
Retomando, em ciclos, suas muitas e familiares formas, indo e vindo
Fica fácil imaginar o momento do redesenho do tempo.
Como seria redesenhar o tempo?
Ao invés de uma linha ancorada a um passado invariável, estendendo-se a um futuro incerto
Em um lugar como este, poderíamos desenhar um círculo.
(Um círculo tão grande que, a depender de onde estejamos, pode parecer uma linha
Tal qual o horizonte, que um dia pareceu ser a borda do mundo
Aos olhos dos primeiros navegadores
Que temiam se lançar à morte
Mas insistiram em encontrar novos portos
E voltaram com histórias sobre um mundo sem fim.)
Se o tempo é um círculo, não importa onde você começa ou termina
Porque há infinitos começos e fins.
Fica mais fácil então imaginar o abrandamento de nossa capacidade de testemunhar
Em favor de outrem.
Fica mais fácil imaginar a maré e as constelações, em ciclos, indo e vindo
Sem precisar de testemunhas.
Fica mais fácil se imaginar navegando na borda do mundo,
Apenas para se ver voltando para casa, onde tudo começou.
Se o tempo é um círculo, estamos sempre embarcando e retornando.
Se o tempo é um círculo, cada momento é o início e o fim.
LIUTAURAS JANUSAITIS, músico e compositor da Lituânia, veio ao Sacatar através da parceria entre o Instituto e a UNESCO-Aschberg. Durante a sessão, ele conheceu músicos locais e trabalhou com jazz, música eletrônica e peças para orquestra de cordas. Entretanto, seu maior foco foi na composição de um CD com músicas de meditação intitulado Infinity, que foi inspirado na paz e tranquilidade encontradas no Instituto. Este projeto contou com a colaboração de três colegas de residência: a escritora LINA EL-MOUNZER, responsável pela criação de um poema para uma das músicas do CD; e os fotógrafos MÁRIO MACILAU e ROMY POCZTARUK, que contribuiram com a foto que compõe a capa do CD. Liutauras trabalhou ainda em colaboração com a também residenteGERMAINE INGRAM na realização de duas performances de música e dança.
MÁRIO MACILAU, fotógrafo natural de Moçambique, veio através da parceria entre o Sacatar e a UNESCO-Aschberg. Entre outras atividades, ele acompanhou a ROMY POCZTARUK durante as suas andanças pela ilha, atrás de ruínas históricas.
ROMY POCZTARUK, fotógrafa brasileira, veio através de uma parceria entre o Sacatar e a Bienal do Mercosul que, além de selecionar as suas fotos para a última edição da bienal, lhe premiou com a residência na Bahia. No Sacatar a Romy deu continuidade a uma pesquisa fotográfica que ela vem desenvolvendo em diversos lugares, relativa às ruínas urbanas e históricas, dando visibilidade a lugares que caíram no esquecimento. Durante a temporada no Sacatar, ela também visitou terreiros de Candomblé, conheceu alguns de seus rituais e conduziu entrevistas com praticantes desta religião de matriz africana.