Ser Artista no Mundo e na Bahia: Redefinindo Narrativas,
Identidade e Pertencimento no Sacatar
O Sacatar dá as boas-vindas a um novo grupo de artistas residentes a partir de 18 de novembro!
Nascido no Sudão e radicado na Noruega, o artista Ahmed Umar tem uma abordagem interseccional que une as esferas pessoal, cultural e espiritual. O artista é uma das vozes de maior destaque em prol dos muçulmanos queer e seu trabalho trata de identidade e sistemas de crenças, bem como de supressão e auto-empoderamento. Umar é um dos artistas em exposição na Bienal de Veneza deste ano.
Iva Radivojević é uma cineasta e artista renomada, originalmente de Belgrado. Suas obras refletem poeticamente sobre temas de migração, deslocamento e pertencimento. Seus filmes já foram exibidos em alguns dos principais festivais internacionais e ela é ganhadora de diversos prêmios e bolsas, incluindo uma Guggenheim Fellowship.
João do Nascimento, de Porto Seguro, Bahia, explora as representações do corpo negro, mesclando autorrepresentação com a cosmologia africana. Em suas obras, ele cria formas híbridas que refletem dimensões sociais, espirituais e materiais enraizadas na cultura afro-brasileira. A residência de João do Nascimento conta com o apoio do Fundo de Cultura Para Ações Continuadas da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.
Luma Nascimento, artista e educadora, investiga a cultura e espiritualidade afro-brasileiras por meio de símbolos de comércio, memória e ritual. Com foco especial em miçangas de vidro, seu trabalho ativa memórias ancestrais e fomenta diálogos sobre a identidade afro em contextos contemporâneos. Natural de Salvador, Bahia, a residência de Luma Nascimento é apoiada pelo Fundo de Cultura Para Ações Continuadas da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.
O artista nigeriano-canadense Oluseye Ogunlesi busca inspiração na filosofia iorubá. A partir desta, ele cria o que chama de “detritos diaspóricos”, transformando objetos encontrados em obras de arte que refletem a espiritualidade africana, a diáspora negra e o misticismo. Seu trabalho homenageia a identidade negra como atemporal e transcendental.
Paola Barreto é uma artista e pesquisadora brasileira cujo foco é a resistência ao apagamento no contexto das tecnologias modernas, especialmente de formas de vigilância. Seu trabalho, que já foi apresentado em instituições como a Bienal de Veneza, MAM-SP e Transmediale Berlin, inclui intervenções urbanas e projetos audiovisuais.
O escritor Snowden Wright, aclamado autor do livro “American Pop” (eleito “Livro do Mês” pelo Wall Street Journal e melhor livro do ano pela NPR) usará seu tempo no Sacatar para se aprofundar em narrativas sobre os confederados estadunidenses que imigraram para o Brasil no século 19. Ele também usará a experiência da residência como uma oportunidade para trocar experiências com outros artistas e disciplinas.
Vindo de Bamako, no Mali, o artista, cineasta e fotógrafo Tiécoura N’Daou, vai explorar possíveis conexões entre o Mali e a Bahia no contexto da Zambiapunga. Especialista em culturas tradicionais malinenses, o artista irá criar um documentário experimental e uma série fotográfica. A vinda de Tiecoura N’Daou tem apoio do Fundo de Cultura Para Ações Continuadas da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.
O Sacatar agradece o apoio financeiro do Fundo de Cultura para Ações Continuadas da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SECULT), que apoia as residências das/os artistas baianas/os Luma Nascimento e João do Nascimento, bem como a vinda do artista malinês Tiecoura N’Daou.
Essas/es artistas ficarão em residência no Instituto Sacatar de 18 de novembro de 2024 a 20 de janeiro de 2025.
AHMED UMAR
Artes Multidisciplinares
Sudão > Noruega
Ahmed Umar, artista nascido no Sudão, é um criador interdisciplinar radicado na Noruega. Ele obteve seu mestrado em Medium and Material-Based Art na Oslo National Academy of the Arts em 2016. Umar é uma voz proeminente na defesa de indivíduos queer de origem muçulmana tanto na Noruega quanto no Sudão.
A prática artística de Umar aborda temas de identidade, religião e valores culturais. A partir de suas experiências pessoais, seu trabalho explora narrativas de supressão, alienação, libertação e auto-empodaremento. Seu trabalho abrange várias mídias, incluindo escultura, têxteis, cerâmica, joias, fotografia e performance, refletindo a complexidade das histórias que ele procura contar.
Durante sua residência no Sacatar, Umar pretende se aprofundar na influência da espiritualidade da África Negra nos rituais e na dança baianas, investigando como esses elementos moldam a identidade da comunidade e servem como expressões de resiliência, narração de histórias e continuidade cultural. Sua meta é aprofundar seu envolvimento artístico com temas espirituais através de experiências imersivas.
IVA RADIVOJEVIĆ
Imagem em Movimento
Sérvia > Grécia
Nascida em Belgrado, Iva Radivojević passou seus primeiros anos na Iugoslávia, no Chipre e em Nova York. Atualmente, ela é artista e cineasta e divide seu tempo entre Atenas e Lesbos. Seus filmes foram exibidos em festivais e instituições importantes, como o New York Film Festival, New Directors/New Films, Rotterdam IFF, CPH, Berwick Film & Media Arts Festival, DocLisboa, Museum of Modern Art (Nova York) e a Thessaloniki Biennale of Contemporary Art. Trabalhos seus já foram encomendados pela ARTE La Lucarne e Field of Vision. Além disso, a artista já recebeu diversas bolsas e prêmios, como o Sundance Art of Non-Fiction Fellowship, a Guggenheim Fellowship, a Jerome Fellowship, a NYFA Fellowship e o Princess Grace Special Project Award.
A prática de Radivojevic surge como uma coleção de fragmentos — observações, poesia, imagens, sons, melodias e línguas. Seu trabalho frequentemente gira em torno dos temas de migração, deslocamento e pertencimento, buscando conexões com o metafísico ou o mágico.
No Sacatar, Radivojević explorará a noção de deslocamento e o conceito de “paisagem onírica” de Dubravka Ugrešić, enquanto desenvolve um texto complementar para seu filme When The Phone Rang. O plano é pesquisar e escrever um ensaio analisando a ideia de Ugrešić sobre a estrutura onírica do exílio, refletindo sobre nostalgia, memória e suas conexões com a narrativa.
JOÃO DO NASCIMENTO
Artes Visuais
SECULT
Brasil
A pesquisa de João do Nascimento investiga a representação de um corpo negro subjetivo por meio de linguagens como pintura, objeto, instalação e texto. Natural de Porto Seguro, Bahia, Nascimento é formado pela Escola de Belas Artes da UFBA e já participou de exposições nacionais como Sidney Amaral: Um Espelho na História e Direito à Forma, no Instituto Inhotim.
João do Nascimento utiliza a autorrepresentação como uma forma de fabulação do corpo em sua totalidade. Ao considerar o corpo em suas dimensões social, espiritual e material, ele cria híbridos que remetem à cosmologia africana, na qual seres híbridos podem representar mensagens, divindades, ancestrais ou metáforas.
Durante sua residência no Sacatar, além de desenvolver seu trabalho em estúdio, o artista planeja ministrar a oficina “Colagem e Anatomia” para estudantes de Itaparica. A oficina propõe uma abordagem didática para pensar curadoria, referência e composição através do exercício de criação de um corpo a partir do conceito de “corpo-mundo”, elemento que o artista destaca como central na filosofia africana.
A residência de João do Nascimento tem o apoio financeiro do Fundo de Cultura Para Ações Continuadas da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia – SECULT.
LUMA NASCIMENTO
Artes Multidisciplinares
SECULT
Brasil
Luma Nascimento é artista multidisciplinar, diretora de arte e pedagoga formada pela Universidade do Estado da Bahia. A artista também estudou sopro e manipulação de vidro em Pretória, África do Sul, na Glass Forming Academy e é a criadora da Lemoriô – Ilê de Miçangas. Atualmente, é vice-presidenta do tradicional Bloco Afro Os Negões e participou da residência artística CAPACETE + MAM Rio 2020, onde publicou o capítulo “Me Despache_Pra Frente” no livro Esses Seres Vivemos: Residências MAM 2020.
Seu trabalho explora a intersecção entre práticas culturais tradicionais afro-brasileiras e espiritualidade, a partir de um olhar que une energia vital, estética e memória. A pesquisa de Luma Nascimento concentra-se em feiras de rua em diversas regiões do Brasil e do mundo, o que a levou a aprofundar o estudo sobre miçangas de vidro. Nesse contexto, a artista investiga as complexidades históricas dessas miçangas, desde seu uso como moeda, passando por sua dimensão ritualística, até sua função como linguagem.
No Sacatar, Luma Nascimento investigará a ideia de “CORPO DOCUMENTO” por meio das linguagens dos Movimentos e das Sociedades Alternativas Organizadas por Pessoas Pretas, como forma de entrelaçar suas vivências e experiências de mundo. Essa investigação irá utilizar experimentação corporal, fusão de vidro, modelagem manual e o tear de contas e miçangas. A artista busca assim unir “fragmentos de memórias” para criar uma escultura e uma performance em vídeo.
A residência de Luma Nascimento tem o apoio financeiro do Fundo de Cultura Para Ações Continuadas da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia – SECULT.
OLUSEYE OGUNLESI
Artes Visuais
UK > Nigéria > Canadá
Oluseye Ogunlesi é um artista nigeriano-canadense. Usando “diasporic debris” (detritos diaspóricos) – um termo que ele cunhou para descrever os artefatos, materiais descartados e objetos encontrados que coleta em suas viagens transatlânticas – ele explora o ser negro em vários temas. Esses objetos são reformulados em esculturas, performances e fotografias, invocando as narrativas pessoais e as viagens de Oluseye em uma análise mais ampla da cultura da diáspora negra, da migração e das tradições espirituais africanas.
Trabalhos de Ogunlesi já foram expostos no Museum of the African Diaspora, São Francisco (2024), na Daniel Faria Gallery, Toronto (2024), na Southern Guild Gallery, Cidade do Cabo (2023), no Gardiner Museum, Toronto (2023), no Albright-Knox Museum, Buffalo (2022), no Museum of Contemporary Art Toronto (2021), no Agnes Etherington Art Center, Queen’s University, Kingston (2021) e na Art Gallery of Ontario, Toronto (2015).
No Sacatar, o artista continuará a desenvolver sua série “Eminado”, reimaginando objetos talismânicos que pessoas de origem africana – do passado e do presente – carregavam como forma de proteção. Com esse espírito, ele vem viajando há seis anos, coletando “detritos diaspóricos” para homenagear povos e histórias não reconhecidos. Durante a residência, ele irá coletar artefatos da Bahia e os combinar com objetos previamente coletados na Nigéria e em outros territórios.
PAOLA BARRETO
Artes Multidisciplinares
Brasil
Paola Barreto é uma artista, pesquisadora e professora adjunta na UFBA, onde coordena o Grupo de Pesquisa Balaio Fantasma. Ela possui doutorado em Poéticas Interdisciplinares pela UFRJ, período durante o qual também estudou na University of the Arts Berlin, UdK, na Alemanha. Realizou o pós-doutorado em História da Arte pela UFRB e pela Universidade de Abomey-Calavi, no Benim. É membro permanente do PPGAV-EBA e do Programa de Mestrado Profissional ProfArtes-IHAC. Participou de exposições coletivas na Bienal de Veneza, Transmediale Berlin, Live Performers Meeting Room e MAM-SP, entre outras.
A prática artística de Paola Barreto é fundamentada em análises críticas da história das tecnologias modernas, cruzando cinema, vigilância e estudos de arte. Ela desenvolve projetos na interface entre produção artística e crítica, com foco em territórios físicos e simbólicos que resistem aos processos de invisibilização ou apagamento. Seu trabalho inclui intervenções urbanas, projeções audiovisuais, eventos transdisciplinares, publicações e projetos curatoriais.
Desde 2022, Paola tem investigado os intercâmbios culturais entre o Brasil e o Benim. Em 2023, viajou para lá como pesquisadora e retornou em 2024 como artista convidada na Bienal de Ouidah. Durante sua residência no Sacatar, ela dialogará com as comunidades baianas que conectam territórios da diáspora africana em múltiplos níveis. Ela usará esse material para criar uma palestra-performance e uma instalação de vídeo.
SNOWDEN WRIGHT
Literatura
EUA
Snowden Wright é o aclamado autor de “American Pop”, livro eleito pelo Wall Street Journal WSJ+ como o Livro do Mês e considerado o Melhor Livro do Ano pela NPR. Ele já escreveu para publicações como The Atlantic, Salon, Esquire, The Millions e New York Daily News, entre outras. Wright já foi também leitor de ficção na The New Yorker, Esquire e The Paris Review. O autor foi também contemplado com as bolsas Marguerite e Lamar Smith no Carson McCullers Center, e sua estreia em pequena editora, “Play Pretty Blues”, recebeu o prêmio Graywolf do Summer Literary Seminar. Seu terceiro romance, “The Queen City Detective Agency”, será lançado pela HarperCollins.
De acordo com Wright, residências como o Sacatar permitem que ele se conecte com outros artistas, discutam seus processos e, ao fazer isso, refine suas produções. Por essa razão, ele destaca o aspecto comunitário da residência como um de seus principais atrativos.
Durante sua residência no Sacatar, Wright pretende continuar a trabalhar em seu romance em andamento, “True Delta”. Embora seja uma obra de ficção, ela trata de um episódio real da história estadounidense: aproximadamente 10.000 sulistas que, após a Guerra Civil, emigraram para o Brasil. O romance se concentra na cidade fictícia de New Vicksburg e seus habitantes, que lidam com seu “exílio” dos EUA e as repercussões—tanto figurativas quanto literais—de se encontrarem do lado errado da história.
TIÉCOURA N’DAOU
Imagem em Movimento
SECULT
Mali
Tiécoura N’Daou é um artista multimídia e pesquisador cujo trabalho abrange vídeo, fotografia e instalação. Ele se formou no Conservatoire des Arts et Métiers Multimedia em Bamako e hoje divide seu tempor entre a pesquisa e experiências diversas nos campos da arte, fotografia, jornalismo cultural, televisão e produção de filmes. Profundamente enraizado nas culturas e tradições do Mali, ele permanece em sintonia com os avanços tecnológicos, esforçando-se para mesclar tradição e inovação.
Participou de várias exposições e residências em todo o mundo, incluindo a Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil em São Paulo, o African Digital Innovation Festival em Joanesburgo, o Rencontres de la Photographie em Bamako, a Bienal Dak’Art de Arte Africana Contemporânea e a Bienal de Artes Contemporâneas na Ilha da Reunião.
Para sua residência no Instituto Sacatar, o foco de Tiécoura será a pesquisa de rituais tradicionais. Ele planeja fazer uma abordagem transcultural dos rituais e práticas espirituais do povo Dogon do Mali e da manifestação Zambiapunga em Nilo Peçanha, Bahia, Brasil. Seu objetivo é criar um documentário experimental e uma série de fotografias que explorem as semelhanças entre essas duas tradições e povos.
A residência de Tiecoura N’Daou tem o apoio financeiro da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia através do Fundo de Cultura Para Ações Continuadas da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia – SECULT.
PRESS RELEASE SETEMBRO 2024
- Ann Mary Gollifer / Artes Visuais / Guiana > UK > Botsuana
- Dazaun Soleyn / Dança / EUA
- Fernanda Costa / Artes Multidisciplinares / Brasil
- Geralyn Shukwit / Fotografia / EUA
- Hélène Bertin / Artes Visuais / França
- Julien Discrit / Artes Visuais / França