Uma Sessão de Residência de Muitas Parcerias
A principal maneira pela qual as/os artistas são selecionadas/os para as residências do Sacatar é por meio de nossas Chamadas Abertas. No entanto, as parcerias institucionais também são um aspecto importante de nossa missão de apoiar as/os residentes e a criatividade e, às vezes, as/os artistas chegam ao Sacatar como resultado de colaborações com diferentes organizações. Esse é o caso de quatro dos residentes desta sessão, cujas residências no Sacatar são o resultado de três parcerias diferentes:
SECULT: A Secretaria de Cultura do Estado da Bahia contemplou o Sacatar em um edital com duração de três anos que garantirá a residência de uma/um artista baiana/o por sessão até 2027. Através do Fundo de Cultura – Apoio às Ações Continuadas, a SECULT possibilitará que artistas de diferentes regiões do Estado da Bahia, bem como artistas vindos das periferias, tenham condições de desfrutar plenamente de uma residência no Sacatar. É com muita alegria que recebemos Fernanda Costa como a primeira residente a vir para o Sacatar com o apoio da SECULT!
Djerassi: o Djerassi Resident Artists Program é uma importante residência artística na Califórnia (EUA), com a qual o Sacatar tem o prazer de estabelecer uma parceria por meio de um “intercâmbio de artistas residentes”, ou seja, um artista indicado pelo Djerassi vai para o Sacatar e vice-versa. Colaborações como essa garantem mais oportunidades para os residentes do Sacatar e para o intercâmbio e a criação internacionais. Nesta sessão, damos as boas-vindas a Dazaun Soleyn – um artista do Djerassi – ao Sacatar.
La Fondation des Artistes: As/Os artistas Hélène Bertin e Julien Discrit chegam ao Sacatar com o apoio da Fondation des Artistes (França). A fundação desempenha um papel crucial no apoio a artistas em vários estágios de suas carreiras e, por meio dessa colaboração entre a Fondation des Artistes e o Sacatar, os artistas apoiados pela fundação terão a oportunidade de experimentar uma residência artística do Sacatar.
Por fim, mas certamente não menos importante, temos o prazer de receber as artistas Ann Mary Gollifer (Guiana > Reino Unido > Botsuana) e Geralyn Shukwit (EUA), que foram selecionadas através da nossa Chamada Aberta de 2022
Parcerias como essas são importantes para as/os artistas que se beneficiam delas, mas também são cruciais para aproximar organizações culturais de diferentes lugares e fortalecer um ecossistema artístico local e internacional.
Essas/es artistas ficarão em residência no Instituto Sacatar na Ilha de Itaparica, na Bahia, Brasil, de 2 de setembro a 4 de novembro de 2024.
Ann Mary Gollifer
Artes Visuais
Chamada Aberta Sacatar 2022
Guiana > Reino Unido > Botsuana
As raízes de Ann Mary Gollifer remontam ao distrito de Barima-Waina, na Guiana, situado no noroeste da linha de Schomburgk. Com uma rica herança – sua mãe é Warao-Arawak e seu pai é inglês – a educação inicial da artista ocorreu na Inglaterra e na Escócia, onde ela obteve um diploma de honra em História da Arte. Em 1985, ela se mudou para Botsuana, onde desde então se estabeleceu como uma proeminente artista visual e curadora. Mais recentemente, ela fundou o Art Residency Centre em Gaborone, Botsuana.
Como pintora e gravurista, o trabalho de Ann Mary está profundamente ligado à terra, muitas vezes utilizando terra de Botsuana para criar tintas em aquarela. Sua arte explora consistentemente a questão fundamental do que significa ser humano.
A artista aborda sua residência no Sacatar com a missão de descobrir e documentar os vestígios dos moradores indígenas pré-colombianos da Bahia. Durante sua estada em Itaparica, ela catalogará os nomes da flora e da fauna locais, tanto em texto quanto em imagem, em todos os idiomas.
Dazaun Soleyn
Dança
Parceria Djerassi Programa de Artistas Residentes
EUA
Dazaun Soleyn, artista multidisciplinar radicado na Califórnia desde 2013, é formado em Dança Moderna e Coreografia pela University of South Florida e possui mestrado em Arquitetura pelo California College of the Arts.
Sua prática criativa, que abrange dança, arquitetura, escultura e instalações interativas, foca na interseção entre cura e conexão espiritual dentro da Diáspora Africana. O processo criativo de Dazaun começa com meditação, pesquisa, esboços, registro em diário, criação de modelos e explorações de movimento, permitindo-lhe se conectar com forças maiores de amor, medo e laços ancestrais. O feedback da comunidade desempenha um papel crucial no refinamento de seu trabalho, garantindo que ele permaneça relevante e ressonante. O projeto que o artista desenvolve no Sacatar visa criar peças arquitetônicas com impacto cultural que evoquem alegria, tranquilidade e cura.
Dazaun está criando uma nova peça intitulada “may we heal?”, uma performance poderosa que investiga a jornada de cura de um corpo negro sobrecarregado por traumas geracionais. A obra entrelaça dança, música, palavra falada e arquitetura para proporcionar uma experiência profundamente humana, convidando o público a se conectar com o trabalho de forma pessoal e emocional.
Durante a residência, o artista explora a relação entre sua estética de movimento exclusiva e as tradições da dança negra, incluindo house, jazz e swing/lindy hop. Além disso, experimenta a improvisação estruturada colaborativa para aprimorar a natureza dinâmica de sua obra.
A residência de Dazaun Soleyn resulta de uma parceria contínua entre o Instituto Sacatar e o Djerassi Resident Artists Program (EUA). Também como parte dessa parceria, um ex-residente brasileiro do Sacatar terá uma residência no Djerassi em outubro.
Fernanda Costa
Artes Multidisciplinares
SECULT
Brasil
Nascida em Salvador, Fernanda Costa é uma artista e dançarina cuja prática investiga a interseção entre corporeidades negras e ambientes urbanos, utilizando experiências e memórias coletivas para moldar identidades diaspóricas. Por meio de seu trabalho, ela cria documentos poéticos que narram as aparências e transformações de corpos e culturas, desafiando a violência colonial e o apagamento.
A artista possui formação em balé clássico, jazz, dança contemporânea, moderna, afro-brasileira e orixá, e formou-se em Dança pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 2009.
Seu trabalho internacional inclui a performance em 2019 na mostra “Aesthetics of Colors” e a coreografia e direção em 2024 da peça “Caminhos das Águas – Unaufhaltsames Fliessen”, ambos no Ballhaus Naunynstrasse de Berlim. Atualmente, como pesquisadora de pós-cultura na UFBA, seu trabalho concentra-se na memória e na corporeidade das mulheres negras em Salvador.
No Sacatar, Fernanda Costa desenvolverá “Aiywaminjoo”, uma performance que explora as experiências de mulheres diaspóricas que carregam imagens espelhadas em seus corpos. Esses espelhos, mesmo quando quebrados, representam fragmentos de outras existências e servem como ferramentas para construir conforto e pertencimento.
Esta residência conta com o apoio da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia – SECULT, por meio do Fundo de Cultura – Apoio às Ações Continuadas.
Geralyn Shukwit
Fotografia
Chamada Aberta Sacatar 2022
EUA
A artista Geralyn Shukwit usará sua residência para refinar “O Tempo Não Para”, um projeto fotográfico em andamento que captura a essência da Bahia. Durante esse período, a artista pretende aprofundar suas imagens, buscando novas conexões e perspectivas. Ela está ansiosa para se envolver com a comunidade baiana local e garantir que seu retrato reflita com precisão o espírito da região. O objetivo final é preparar o trabalho para publicação e ampliar seu público.
A arte de Geralyn Shukwit explora a intrincada relação entre pessoas e paisagens. Seus projetos fotográficos, que vão de Nova York ao Brasil, combinam abordagens documentais e de belas artes para revelar essas conexões. Seu trabalho foi exposto nos Estados Unidos, na Espanha e na Etiópia, e publicado na National Geographic, Progresso Fotografico, BIG Magazine, Edge of Humanity e na Blue Sky Gallery. Ela recebeu prêmios como o Julia Margaret Cameron Award, Photolucida Critical Mass Top 50, AI/AP Latin American Fotografia, APA/NY e International Photography Awards (IPA), e foi indicada para o Prêmio Henri Cartier-Bresson.
Como fotógrafa, Geralyn se destaca pelas interações autênticas, preferindo observar em vez de dirigir seus temas. Essa abordagem permite que os momentos se desenrolem naturalmente, embora ela às vezes perca uma foto enquanto conversa. Essas interações são essenciais para moldar o caráter único de seus projetos.
Hélène Bertin
Artes Visuais
Parceria com La Fondation des Artistes
França
No Sacatar, Hélène Bertin continuará sua exploração da figura do dançarino-coletor, um conceito que ela vem desenvolvendo junto com sua prática de cerâmica nos últimos anos. Desta vez, ela se concentrará em uma escala menor, criando amuletos que refletem um estilo de vida mais nômade. Bertin pretende explorar novas espécies de plantas, como cipós, árvores frutíferas e árvores florestais, para aprofundar sua compreensão da paisagem baiana.
Hélène, nascida na França em 1989, descreve sua abordagem como “deliberadamente bastardizada”, uma metodologia que ela aplica tanto como artista quanto como pesquisadora. Atualmente sediada em Cucuron (França), enriquece sua prática por meio de colaborações e interações com indivíduos apaixonados, envolvendo-se continuamente com a noção de alteridade. Ela evita as fronteiras disciplinares tradicionais e, em vez disso, usa o gesto e a matéria como meios para integrar diversas práticas.
Depois de se formar na École des Beaux-Arts, a artista retornou ao vilarejo de sua infância e viajou por várias regiões para estudar cerâmica e mergulhar no artesanato, na culinária, nas danças e nas músicas locais. Essa conexão com a cultura continua a influenciar significativamente seu trabalho.
A residência de Hélène faz parte de uma colaboração contínua entre o Sacatar e a Fondation des Artistes.
Julien Discrit
Artes Visuais
Parceria com La Fondation des Artistes
França
Julien Discrit, nascido na França em 1978, é um artista visual cuja carreira inclui várias exposições individuais e coletivas, tanto na França quanto internacionalmente. Formado pela ESAD Reims em 2004, o trabalho de Julien foi destacado em exposições como “Trio: Modern Art Collections from Paris, Tokyo, and Osaka” no Museu Nacional de Arte Moderna de Tóquio (2024) e na Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Lyon (2011, 2017, 2024). Suas peças estão incluídas em diversas coleções públicas e privadas, e ele recebeu vários prêmios e subsídios, incluindo os da Fondation des Artistes (2016, 2022), o Prêmio Fawu e o Programa de Residência Sacatar (2024). Desde 2016, é representado por Anne-Sarah Bénichou em Paris.
A prática artística de Julien Discrit concentra-se na exploração de processos físicos e biológicos por meio da geração de formas. Ele investiga o surgimento e a representação dessas formas como resultados experimentais, inspirando-se na geomorfologia e na neurociência. Suas obras são vistas como impressões que evocam a memória coletiva e pessoal, refletindo uma metamorfose constante do tempo e do mundo.
Durante sua residência em Itaparica, o artista aprofundará sua exploração da memória e da reminiscência, examinando a interação entre processos naturais e patrimônio cultural. Sua pesquisa focará em como as forças ambientais moldam as paisagens físicas e a memória coletiva, com o objetivo de revelar o diálogo entre o tempo geológico e as práticas culturais. A residência resultará em um corpo de trabalho que une o legado material e intangível da Bahia, integrando o passado e o presente por meio de várias mídias artísticas. Julien planeja trabalhar com fotografias e imagens de vídeo e colaborar com artesãos de cerâmica durante esse período.
