Estamos entusiasmados em dar início à nossa segunda sessão de residência em 2025 com um grupo extraordinário de artistas: a dançarina/coreógrafa Cleo Parker Robinson (EUA); os criadores multidisciplinares Élise Morin (França) e Marcos da Matta (Brasil), a pintora Lillian Hoover (EUA); o músico Mat Poirot (França); a pesquisadora de estudos urbanos Maria Robalino (Equador – EUA); e a escritora investigativa de não ficção Tiffany Higgins (EUA).
Com o início de nossa segunda sessão de residência de 2025, reconhecemos os desafios crescentes que os artistas enfrentam em meio a um clima global de crescente nacionalismo, censura e supressão cultural. Em resposta, permanecemos firmes em nosso compromisso de promover o intercâmbio internacional, defender a diversidade e a inclusão e defender o papel vital das residências em fornecer aos artistas o espaço e o apoio para criar, refletir e resistir.
Temos o prazer de receber Marcos da Matta com o apoio contínuo da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, através do Fundo de Apoio para Ações Continuadas da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia – SECULT. O apoio da SECULT nos permite receber mais artistas da Bahia e democratizar ainda mais o acesso aos profundos benefícios que as residências podem trazer para os artistas e para as comunidades vizinhas.
Também temos o prazer de fazer parceria com o Éspace Frans Krajcberg em Paris, na França. Em preparação para uma próxima exposição lá, Élise Morin estará na Bahia para avaliar as obras do escultor polonês/brasileiro Franz Krajkberg (1921-2017), que deixou suas muitas esculturas monumentais para o Estado da Bahia.
Esses artistas ficarão em residência no Instituto Sacatar de 12 de maio a 30 de junho de 2025.

Cleo Parker Robinson
Dança
EUA
Robinson é a fundadora e diretora artística da Cleo Parker Robinson Dance, uma renomada companhia de dança estabelecida nos EUA há 54 anos, que também é conhecida por seus importantes programas educacionais e de envolvimento comunitário.
A artista descreve sua visão artística como “Um Espírito, Muitas Vozes”. Suas coreografias e projetos servem como um “santuário criativo [onde dançarinos e alunos de todas as origens] encontram um lugar onde suas energias são nutridas, incentivadas e honradas”.
Robinson planeja usar seu tempo no Sacatar para começar a trabalhar em um arquivo que documenta sua extensa carreira, que, notavelmente, também inclui inúmeras colaborações com dançarinos e companhias baianas, incluindo o Balé Folclórico da Bahia.
Ao receber Cleo Parker Robinson no Sacatar, esperamos ter muitas possibilidades: apoiar uma artista consagrada no início de um trabalho de arquivo sobre sua carreira; facilitar a retomada de parcerias anteriores com companhias de dança baianas; e criar oportunidades para novas colaborações com outros dançarinos e artistas baianos.

Escrita pela cantora de jazz, compositora, pianista e arranjadora Nina Simone, “Four Women” foi lançada no álbum “Wild Is the Wind”, de 1966, contando a história de quatro mulheres afro-americanas, cada uma representando um estereótipo da sociedade. Thulani Davis, do The Village Voice, chamou a música de “uma análise instantaneamente acessível do legado condenatório da escravidão, que tornou iconográficas as mulheres reais que conhecíamos e nos tornaríamos”.
Coreógrafa: Cleo Parker Robinson
Música: Nina Simone
As mulheres: Aunt Sarah / Saffronia / Sweet Thing / Peaches
Crédito da foto: Martha Wirth

Élise Morin
Artes Multidisciplinares
França
Élise Morin (França) é uma artista multidisciplinar cujo trabalho une instalação, som, performance e pesquisa ecológica. Sua residência é o resultado de uma parceria entre o Instituto Sacatar e a Fondation Krajcberg, em Paris.
Morin fala sobre seu projeto: “[Ele] amplia o legado de Frans Krajcberg ao explorar a tecelagem e a modelagem como formas situadas de resistência (…) Em Itaparica, as técnicas artesanais locais – tecelagem com fibras de piaçava e licuri, cerâmica vernacular – tornam-se vetores para uma poética da relação (…). Enquanto Krajcberg esculpia a queimadura, este projeto busca tecer, filtrar e montar”.
Além de apoiar o trabalho de Élise Morin, esperamos que essa residência seja uma oportunidade de ativar a coleção de Krajcberg, que esteve inativa nos últimos anos.

The Emissaries (Os Emissários), 2024
Cerâmica, granito, xisto, corda, aço, sistema de som imersivo 8.0
Dimensões variáveis
Guardian Art Center, Pequim
Apresentada como a peça final da exposição L’Or de Dior, The Emissaries explora o ouro como uma entidade extraterrestre nascida de supernovas e como um material espiritual incorporado em práticas divinatórias antigas e contemporâneas. Combinando materiais brutos e industriais, a instalação forma uma paisagem sensorial que questiona nossa relação com a matéria, a memória e a transcendência.
Crédito: ©BorisShiu @AGENTPAY

Lilian Hoover
Artes Visuais
EUA
A artista visual americana Lillian Hoover é mestre pelo Maryland Institute College of Art e bacharel pela Universidade da Carolina do Norte em Asheville. Seu trabalho faz parte das coleções de instituições como o Baltimore Museum of Art e o Weatherspoon Art Museum. Ela leciona na Towson University e já expôs amplamente nos Estados Unidos.
No Sacatar, Hoover explorará a Baía de Todos os Santos, reunindo imagens de locais onde a geologia, a ecologia e a atividade humana convergem. Suas pinturas – baseadas em fotografias, desenhos e estudos a óleo – refletem sobre o impacto da presença humana nos sistemas naturais. O trabalho resultante convida os espectadores a considerar nosso lugar na história ambiental e geológica em evolução da Terra.
Impressionados com a estranheza hipnótica de suas pinturas – justaposições desafiadoras de paisagens tradicionais e abstração inesperada – esperamos que as justaposições arquitetônicas chocantes no tecido urbano da Bahia possam inspirar Lilian a realizar novos trabalhos intrigantes.


Marcos da Matta
Artes Multidisciplinares
Brasil
Em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia
Marcos da Matta é um artista multidisciplinar de Conceição do Almeida, Bahia. Vive e trabalha em Cachoeira, onde se formou em Artes Visuais pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Membro do coletivo “Práticas Desobedientes”, sua prática é moldada pela vida cotidiana, religião e trabalho informal no Recôncavo.
No Sacatar, da Matta está criando obras inspiradas nas rotinas dos trabalhadores de rua de Itaparica. Com base em materiais de publicidade de rua, ele planeja montar suas peças em suportes móveis, como banners e displays ambulantes. Elas serão ativadas por meio de circulação pública e performance, usando seu próprio corpo como veículo para refletir o trabalho, a identidade e a resiliência cotidiana.

Acrílico sobre tela
110 x 152 cm
Crédito da foto: Ilan Iglesias

Maria Robalino
Artes Multidisciplinares
(Equador > > EUA)
María Gloria Robalino (Equador > EUA) é professora assistente de Línguas Românicas na Washington University em St Louis. Ela tem doutorado em Literatura Comparada pela Universidade de Stanford e mestrado em Arquitetura pela Universidade de Harvard.
Atualmente, ela está desenvolvendo dois projetos de pesquisa: um explora o conceito de vertigem no mundo hispanófono global do século XVII e o outro investiga a noção de formação na América Latina do século XX.
No Sacatar, ela planeja desenvolver seu projeto multimídia Blind Faith, que é inspirado em culturas visuais pré-coloniais da região andina.
O Sacatar está entusiasmado em receber María Gloria Robalino – não apenas pela maneira como ela une a pesquisa acadêmica à prática artística, mas também pelo potencial que sua abordagem interdisciplinar tem de abrir assuntos acadêmicos aparentemente restritos a públicos mais amplos.
Atualmente está trabalhando em um livro manuscrito intitulado “Shapes of Learning: Urbanity and the Formation of the Sensible in 20th Century Latin America”, María examinará a arquitetura de Lina Bo Bardi (1914-1992), seus escritos influentes e seus projetos (construídos e não construídos) em Salvador. Ela aproveitará seu tempo na Bahia para visitar e documentar os edifícios de Bo Bardi que ainda estão de pé.


Mat Poirot
Música
França
Mat Poirot é um músico francês autodidata e artista multidisciplinar. Com raízes no hip hop, jazz, funk e soul, ele começou a produzir batidas na adolescência e, desde então, colabora com artistas do mundo todo. Profundamente influenciado por viagens e sons, ele vê a música como uma ferramenta sagrada de conexão entre tempos e culturas.
No Sacatar, Poirot está desenvolvendo o Oríkì Beats, um projeto colaborativo com o músico Tacun Lecy. Misturando canções tradicionais de louvor do Candomblé (oríkìs) com hip hop moderno e produção baseada em samples, o trabalho explora o poder de cura da música sagrada em um mundo contemporâneo e acelerado, criando pontes rítmicas entre o conhecimento ancestral e o momento presente.


Tiffany Higgins
Literatura
EUA
Tiffany Higgins é uma poeta e jornalista investigativa americana cujo trabalho combina arte e reportagem para destacar as lutas pela justiça ambiental no Brasil. Bolsista de pesquisa da Fulbright e bolsista do Pulitzer Rainforest Journalism Fund, publicou duas coleções de poesia e traduziu escritores brasileiros, incluindo a poeta indígena Márcia Kambeba. Seus textos aparecem em Guernica, Granta, Atmos e Poetry.
No Sacatar, Higgins desenvolverá um livro de não ficção sobre a resistência das comunidades tradicionais ao longo do rio Tocantins, ameaçadas pela dragagem industrial para o agronegócio. Seu trabalho centraliza as vozes de quilombolas (comunidades históricas de pessoas fugidas e ex-escravizadas), indígenas e ribeirinhos, entrelaçando seus depoimentos com pesquisas jurídicas e científicas. Seu objetivo também é estimular o diálogo entre as comunidades afro-brasileiras da Bahia e da Amazônia que enfrentam lutas fundiárias semelhantes.
A situação política no Tocantins em torno desse projeto proposto de dragagem do rio é tão frágil que o Sacatar está recebendo Tiffany com o entendimento de que ela pode ter que sair a qualquer momento para ficar ao lado dos povos indígenas que estão ameaçados pelo poder destrutivo do meio ambiente do setor de agronegócios do Brasil.

Novembro de 2023, Baião, Pará, Brasil
Destaque na foto, da esquerda para a direita: Maria Edna Nery Dutra, Sebastiana do Carmo Dutra, José Carlos da Silva, Lailton Neres Rodrigues, do Quilombo Vila Dutra, Baião, Pará
Foto de Tiffany Higgins